A teoria keynesiana não explica a crise como um fenômeno cíclico, com particularidades e inerente
ao funcionamento da economia capitalista, mas sim como algo inteiramente
novo e de certa maneira acidental.
A
origem da crise é atribuída ao comportamento humano, basicamente erro
de previsão dos agentes econômicos e ou política econômica inadequada e,
portanto, esta poderia ser evitada (Ribeiro e Mendonça,1986). Este
autor destaca que nesta visão o subjetivo sempre sobrepõe-se ao
objetivo, desconsiderando assim a existência de leis objetivas na
economia que determinam o desenvolvimento dos fenômenos econômicos
autônomos da vontade e consciência dos homens. Castro (1986),
acredita que a afirmação keynesiana de que o ciclo seja ocasionado por
uma
mudança cíclica da eficiência marginal do capital é questionável.
Assim Keynes, sem ter resultados satisfatórios, procura vincular a idéia de
ciclo econômico com a teoria geral.
Isto ocorre ao apresentar a EMC como variável independente e sensível às expectativas de
longo prazo.
No
entanto, para que esta afirmação seja procedente é necessário que a
eficiência marginal do capital apresente oscilações cíclicas, proposição
que o autor não consegue fundamentar. Segundo Castro, nas poucas
tentativas neste sentido, Keynes relaciona a expectativa de rendimentos
futuros (EMC) ao estoque de capital existente ou à especulação e
incerteza. Na primeira relação, o estado de expectativas
conduziria ao otimismo exagerado ou ao pessimismo sobre a decisão de
investir.
Na segunda relação, o estado de incerteza, resultaria em
expectativas que no longo prazo baseiam-se em informações mutáveis e
não confiáveis e, portanto, sujeitas a súbitas e violentas mudanças.
Segundo
Castro, no primeiro caso, a causa dos ciclos econômicos estaria assim
relacionada a fatores de ordem psicológica que praticamente fogem do
alcance da economia, e no segundo caso, se o conhecimento em relação ao
futuro fosse calculável e não sujeitas a súbitas mudanças, a lei de Say
passaria a ser válida.
Além disto, a incerteza não é abordada como algo inerente ao comportamento humano.
O
sentido de instabilidade atribuído por Keynes não significa que o
sistema pode mover-se a qualquer direção e nem considera que as
expectativas a longo prazo podem ser assimiláveis. "É um paradoxo do
capitalismo que a própria incerteza intrínseca ao caráter anárquico (não
regulado conscientemente) de sua atividade produtora de mercadorias
gere um antídoto na forma de um comportamento convencional, que aplaina o
caminho do investimento por intermédio de um não desprezível componente
inercial nas expectativas.
É este o elemento estrutural básico que torna possível converter a anarquia em instabilidade e não em caos" (Possas,1986).
O Princípio de Ajustamento do Estoque de Capital O enfoque keynesiano sobre o investimento
apresenta uma incoerência.
Ao
considerar o nível de renda do pleno emprego, o autor não considera que
o efeito do investimento não se dá somente sobre a renda
(multiplicador), mas também sobre a capacidade
produtiva instalada.
Sendo
assim, para que o nível de pleno emprego se mantenha é necessário que
cresça a cada período, conforme abordado no modelo de Kalecki, quando
apresenta o duplo caráter do investimento.
Inverte sua posição ao
tratar dos efeitos do investimento sobre a sua determinação, quando
considera o investimento como variação do estoque de capital e não seus
efeitos no nível de renda (Jobim,1981).
Crédito e
Poupança A controvérsia entre o crédito e a poupança e seu efeito
sobre o investimento pode ser sintetizado em duas vertentes:
a dos fundos de empréstimos (Síntese neoclássica e neo- keynesianos) e a da abordagem pela
preferência pela liquidez (Keynes e pós-keynesianos).
A
dos fundos de empréstimos, na sua versão clássica, atribui ao banco um
papel passivo de repassadores de poupanças, por supor que apenas a moeda
manual é aceita nas transações
econômicas. Esta versão enfatiza a
função da poupança no financiamento do investimento como condição
necessária para realizá-lo.
Neste sentido, Jorgenson atribui a otimização dos investimentos como função das preferências
fundamentais e da tecnologia que caracteriza a economia e que os fatores meramente financeiros não influenciam fenômenos reais.
Este
autor acredita que se o investimento é definido pelas preferências
estáveis e pela tecnologia, as flutuações no nível de produção seriam
previsíveis e possíveis de isolar, ou seja, grande parte da volatilidade
da demanda agregada introduzida por Keynes seria controlável através de
uma política de estabilização adequada (teoria das expectativas
racionais, ver Fazzari,1993 e Precious,1987).
Ainda na
direção da versão dos fundos de empréstimo, Robertson, numa abordagem
mais moderna, amplia o conceito de meios de pagamento, ao incluir saldos
de transações e recursos advindos do Banco Central.
Nestas
circunstâncias, o sistema bancário assume um papel ativo e define a
oferta de crédito, admitindo, contrariamente à versão clássica, a
possibilidade de desequilíbrios entre a oferta e demanda global por
crédito.
A taxa de juros restauraria este equilíbrio, pois
funcionaria como um mecanismo de ajuste entre poupança e investimento
global. Na versão alternativa da preferência pela liquidez, a taxa
de juros não atua no equilíbrio entre a poupança e o investimento
global, mas representa um prêmio pela perda da liquidez.
Nestas condições, a taxa de juros depende muito mais das decisões dos agentes econômicos do
que do fluxo de poupança e investimento global, e o equilíbrio entre a poupança e o investimento
é definida pelo nível de renda, uma vez que a decisão de realização do investimento resulta do
estado de expectativas dos agentes, sustentada no princípio da demanda efetiva.
Na versão destes autores, a instabilidade dos fatores financeiros podem causar instabilidade nos
investimentos
e na macroeconomia (teoria das incertezas, ver Fazzari,1993 e
Precious,1987). Neste contexto, a falta de uma distinção clara do
efeito do aumento da demanda por moeda pelo
motivo transação
(preferência pela liquidez) com a finalidade de investir (fundo de
empréstimo ou "finance motive"), sobre a taxa de juros, gerou polêmica
(Amadeo e Franco,1989). Para Keynes e os pós- keynesianos, a
provisão de recursos para a realização de um investimento
("finance motive") não altera a liquidez da economia, porque o próprio gasto na compra
dos equipamentos ajusta-a automaticamente.
A empresa que vendeu os equipamentos mantém os recursos sob a forma de depósito bancário,
caracterizando
assim uma operação puramente contábil. Robertson não aceita esta
posição por acreditar que a liquidez se restabelece somente quando o
efeito multiplicador se completa e o financiamento é totalmente
amortizado.
Para Robertson, dificilmente a geração efetiva de
receitas nos níveis estimados se concretiza e os gastos em investimento
dificilmente se identificam com a vida útil do equipamento (período
de geração de renda).
Nesta condições, o efeito do caráter temporal dos gastos em investimento e da renda gerado por este investimento alteraria o
estado de liquidez do sistema (Amadeo e Franco,1989). A polêmica é fruto de uma compreensão
diferente
sobre o conceito de liquidez: em Keynes liquidez parece representar "o
volume de ativos líquidos à disposição dos bancos para empréstimos"; em
Robertson, a liquidez "diz respeito àrecomposição da estrutura do ativo
dos bancos (relação caixa/ depósitos)" (Amadeo e Franco,1989).
Amadeo e Franco (1989), acreditam, ainda, que a massa de lucro de cada
período e a política de sua distribuição pode afetar a capacidade e
decisão das firmas de realizarem novos
investimentos.
Se a
expectativa de lucro não se concretiza, a fragilidade financeira de
empresa aumenta, gerando dificuldades para efetuar as amortizações e o
refinanciamento e ou novas decisões de
investimento sofrerão influência de possíveis restrições quantitativas de crédito, spreads mais
elevados
e deságio na venda de ações, ambas de impacto negativo ao investimento.
Figueiro (1995) destaca que a análise de Keynes (comparando à de
Kalecki) é mais financeira, por supor
o investimento como função da eficiência marginal do capital e da taxa de juros,
confrontando a decisão de investir em capital fixo com outras possibilidades de
aplicações financeiras, e atribuir um papel de destaque à moeda e à preferência pela liquidez.
Consegue, desta forma, captar melhor o aspecto financeiro da economia capitalista.
O Progresso Tecnológico Kalecki, ao introduzir o fator tecnológico em seu modelo, apresenta o
princípio da demanda efetiva de forma mais completa. É importante destacar que esta variável
explica o investimento que ocorre em períodos em que a taxa de retorno é
desfavorável (deficiência de demanda efetiva). Nestas circunstâncias, o princípio da demanda
efetiva em Keynes bapresenta dificuldades para
explicar porque o investimento ocorre; trata- se, na verdade, de uma estratégia empresarial
ofensiva que visa atingir uma condição privilegiada no momento da reversão do ciclo econômico.
Curto
e Longo Prazo Kalecki, diferentemente de Keynes, atribui a
determinação do investimento mais a fatores de longo prazo,
especificamente a poupança dos capitalistas,
taxa de juros de
longo prazo (embora a considere bastante estável, concorda que a taxa de
retorno deve ser superior para que haja investimento) à expectativa de
lucros e ao fator tecnológico.
A Fragilidade Teórica Alguns autores (entre eles Schumpeter) atribuem o valor da teoria geral
muito
mais como instrumento de política econômica e não por questão de teoria
econômica, devido ao hábito de estabelecer conclusões práticas sobre
bases teóricas frágeis (o
chamado vício ricardiano). No entanto,
quase não se encontram recomendações de política econômica na teoria
geral, que na verdade se difundiram através dos seus seguidores. O
trabalho
teórico de Keynes preocupou-se muito mais com o emprego dos recursos disponíveis do
que com crescimento e acumulação de capital. Sendo assim, seu trabalho se limita ao curto prazo,
deixando
a tarefa da transposição ao longo prazo para outros autores
(Vernengo,1994 e Robinson,1979). 3.4.7 - A Dinâmica na Teoria Geral
A síntese neoclássica, através de Hicks, no
modelo IS/LM, mostra
que a economia encontra equilíbrio simultâneo no mercado de bens (nível
de renda) e monetário (taxa de juros). Pigou (efeito riqueza) e
Modigliani (efeito Keynes) mostram que a queda dos preços e dos salários
é uma arma eficiente na condução ao pleno emprego.
Os
pós-keynesianos, com o objetivo de resgatar a teoria geral, afirmam que a
existência de moeda representa a presença do elemento de instabilidade
que pode quebrar o ciclo renda-gasto, pois a retenção da moeda
(liquidez) é a acumulação mais procurada em períodos de crise.
Para Keynes, uma redução dos salários e do preço reduz, respectivamente,
a
demanda efetiva e o lucro, gerando instabilidade e estimulando a acumulação de ativos líquidos
(dinheiro), provocando, assim, um aumento na taxa de juros e contrariamente a Pigou e Modigliani, desencorajaria o investimento.
A
síntese neoclássica negligencia a importância da moeda e das
expectativas, distorcendo desta forma, o conteúdo da teoria geral
(Bittencourt,1995). Em síntese, tanto o modelo de Keynes quanto o
kaleckiano representam um importante marco teórico no sentido de
introduzir uma revisão à macroeconômica clássica e neoclássica e na
tentativa de explicação da dinâmica
capitalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário