quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

CRÍTICAS AO MODELODE KEYNES

A teoria keynesiana não explica a crise como um fenômeno cíclico, com particularidades e inerente
ao funcionamento da economia capitalista, mas sim como algo inteiramente
novo e de certa maneira acidental.
A origem da crise é atribuída ao comportamento humano, basicamente erro de previsão dos agentes econômicos e ou política econômica inadequada e, portanto, esta poderia ser evitada (Ribeiro e Mendonça,1986). Este autor destaca que nesta visão o subjetivo sempre sobrepõe-se ao objetivo, desconsiderando assim a existência de leis objetivas na economia que determinam o desenvolvimento dos fenômenos econômicos autônomos da vontade e consciência dos homens. Castro (1986), acredita que a afirmação keynesiana de que o ciclo seja ocasionado por uma
mudança cíclica da eficiência marginal do capital é questionável.
Assim Keynes, sem ter resultados satisfatórios, procura vincular a idéia de
ciclo econômico com a teoria geral.
Isto ocorre ao apresentar a EMC como variável independente e sensível às expectativas de
longo prazo.
No entanto, para que esta afirmação seja procedente é necessário que a eficiência marginal do capital apresente oscilações cíclicas, proposição que o autor não consegue fundamentar. Segundo Castro, nas poucas tentativas neste sentido, Keynes relaciona a expectativa de rendimentos futuros (EMC) ao estoque de capital existente ou à especulação e incerteza. Na primeira relação, o estado de expectativas conduziria ao otimismo exagerado ou ao pessimismo sobre a decisão de investir.
Na segunda relação, o estado de incerteza, resultaria em expectativas que no longo prazo baseiam-se em informações mutáveis e não confiáveis e, portanto, sujeitas a súbitas e violentas mudanças.
Segundo Castro, no primeiro caso, a causa dos ciclos econômicos estaria assim relacionada a fatores de ordem psicológica que praticamente fogem do alcance da economia, e no segundo caso, se o conhecimento em relação ao futuro fosse calculável e não sujeitas a súbitas mudanças, a lei de Say passaria a ser válida.
Além disto, a incerteza não é abordada como algo inerente ao comportamento humano.
O sentido de instabilidade atribuído por Keynes não significa que o sistema pode mover-se a qualquer direção e nem considera que as expectativas a longo prazo podem ser assimiláveis. "É um paradoxo do capitalismo que a própria incerteza intrínseca ao caráter anárquico (não regulado conscientemente) de sua atividade produtora de mercadorias gere um antídoto na forma de um comportamento convencional, que aplaina o caminho do investimento por intermédio de um não desprezível componente inercial nas expectativas.
É este o elemento estrutural básico que torna possível converter a anarquia em instabilidade e não em caos" (Possas,1986).

O Princípio de Ajustamento do Estoque de Capital O enfoque keynesiano sobre o investimento
apresenta uma incoerência.
Ao considerar o nível de renda do pleno emprego, o autor não considera que o efeito do investimento não se dá somente sobre a renda (multiplicador), mas também sobre a capacidade
produtiva instalada.
Sendo assim, para que o nível de pleno emprego se mantenha é necessário que cresça a cada período, conforme abordado no modelo de Kalecki, quando apresenta o duplo caráter do investimento.
Inverte sua posição ao tratar dos efeitos do investimento sobre a sua determinação, quando considera o investimento como variação do estoque de capital e não seus efeitos no nível de renda (Jobim,1981).

Crédito e Poupança A controvérsia entre o crédito e a poupança e seu efeito sobre o investimento pode ser sintetizado em duas vertentes:
a dos fundos de empréstimos (Síntese neoclássica e neo- keynesianos) e a da abordagem pela
preferência pela liquidez (Keynes e pós-keynesianos).
A dos fundos de empréstimos, na sua versão clássica, atribui ao banco um papel passivo de repassadores de poupanças, por supor que apenas a moeda manual é aceita nas transações
econômicas. Esta versão enfatiza a função da poupança no financiamento do investimento como condição necessária para realizá-lo.
Neste sentido, Jorgenson atribui a otimização dos investimentos como função das preferências
fundamentais e da tecnologia que caracteriza a economia e que os fatores meramente financeiros não influenciam fenômenos reais.
Este autor acredita que se o investimento é definido pelas preferências estáveis e pela tecnologia, as flutuações no nível de produção seriam previsíveis e possíveis de isolar, ou seja, grande parte da volatilidade da demanda agregada introduzida por Keynes seria controlável através de uma política de estabilização adequada (teoria das expectativas racionais, ver Fazzari,1993 e Precious,1987).
Ainda na direção da versão dos fundos de empréstimo, Robertson, numa abordagem mais moderna, amplia o conceito de meios de pagamento, ao incluir saldos de transações e recursos advindos do Banco Central.
Nestas circunstâncias, o sistema bancário assume um papel ativo e define a oferta de crédito, admitindo, contrariamente à versão clássica, a possibilidade de desequilíbrios entre a oferta e demanda global por crédito.
A taxa de juros restauraria este equilíbrio, pois funcionaria como um mecanismo de ajuste entre poupança e investimento global. Na versão alternativa da preferência pela liquidez, a taxa de juros não atua no equilíbrio entre a poupança e o investimento global, mas representa um prêmio pela perda da liquidez.
Nestas condições, a taxa de juros depende muito mais das decisões dos agentes econômicos do
que do fluxo de poupança e investimento global, e o equilíbrio entre a poupança e o investimento
é definida pelo nível de renda, uma vez que a decisão de realização do investimento resulta do
estado de expectativas dos agentes, sustentada no princípio da demanda efetiva.
Na versão destes autores, a instabilidade dos fatores financeiros podem causar instabilidade nos
investimentos e na macroeconomia (teoria das incertezas, ver Fazzari,1993 e Precious,1987). Neste contexto, a falta de uma distinção clara do efeito do aumento da demanda por moeda pelo
motivo transação (preferência pela liquidez) com a finalidade de investir (fundo de empréstimo ou "finance motive"), sobre a taxa de juros, gerou polêmica (Amadeo e Franco,1989). Para Keynes e os pós- keynesianos, a provisão de recursos para a realização de um investimento
("finance motive") não altera a liquidez da economia, porque o próprio gasto na compra
dos equipamentos ajusta-a automaticamente.
A empresa que vendeu os equipamentos mantém os recursos sob a forma de depósito bancário,
caracterizando assim uma operação puramente contábil. Robertson não aceita esta posição por acreditar que a liquidez se restabelece somente quando o efeito multiplicador se completa e o financiamento é totalmente amortizado.
Para Robertson, dificilmente a geração efetiva de receitas nos níveis estimados se concretiza e os gastos em investimento dificilmente se identificam com a vida útil do equipamento (período
de geração de renda).
Nesta condições, o efeito do caráter temporal dos gastos em investimento e da renda gerado por este investimento alteraria o
estado de liquidez do sistema (Amadeo e Franco,1989). A polêmica é fruto de uma compreensão
diferente sobre o conceito de liquidez: em Keynes liquidez parece representar "o volume de ativos líquidos à disposição dos bancos para empréstimos"; em Robertson, a liquidez "diz respeito àrecomposição da estrutura do ativo dos bancos (relação caixa/ depósitos)" (Amadeo e Franco,1989). Amadeo e Franco (1989), acreditam, ainda, que a massa de lucro de cada período e a política de sua distribuição pode afetar a capacidade e decisão das firmas de realizarem novos
investimentos.
Se a expectativa de lucro não se concretiza, a fragilidade financeira de empresa aumenta, gerando dificuldades para efetuar as amortizações e o refinanciamento e ou novas decisões de
investimento sofrerão influência de possíveis restrições quantitativas de crédito, spreads mais
elevados e deságio na venda de ações, ambas de impacto negativo ao investimento. Figueiro (1995) destaca que a análise de Keynes (comparando à de Kalecki) é mais financeira, por supor
o investimento como função da eficiência marginal do capital e da taxa de juros,
confrontando a decisão de investir em capital fixo com outras possibilidades de
aplicações financeiras, e atribuir um papel de destaque à moeda e à preferência pela liquidez.
Consegue, desta forma, captar melhor o aspecto financeiro da economia capitalista.

O Progresso Tecnológico Kalecki, ao introduzir o fator tecnológico em seu modelo, apresenta o
princípio da demanda efetiva de forma mais completa. É importante destacar que esta variável
explica o investimento que ocorre em períodos em que a taxa de retorno é
desfavorável (deficiência de demanda efetiva). Nestas circunstâncias, o princípio da demanda
efetiva em Keynes bapresenta dificuldades para
explicar porque o investimento ocorre; trata- se, na verdade, de uma estratégia empresarial
ofensiva que visa atingir uma condição privilegiada no momento da reversão do ciclo econômico.

Curto e Longo Prazo Kalecki, diferentemente de Keynes, atribui a determinação do investimento mais a fatores de longo prazo, especificamente a poupança dos capitalistas,
taxa de juros de longo prazo (embora a considere bastante estável, concorda que a taxa de retorno deve ser superior para que haja investimento) à expectativa de lucros e ao fator tecnológico.
A Fragilidade Teórica Alguns autores (entre eles Schumpeter) atribuem o valor da teoria geral
muito mais como instrumento de política econômica e não por questão de teoria econômica, devido ao hábito de estabelecer conclusões práticas sobre bases teóricas frágeis (o
chamado vício ricardiano). No entanto, quase não se encontram recomendações de política econômica na teoria geral, que na verdade se difundiram através dos seus seguidores. O trabalho
teórico de Keynes preocupou-se muito mais com o emprego dos recursos disponíveis do
que com crescimento e acumulação de capital. Sendo assim, seu trabalho se limita ao curto prazo,
deixando a tarefa da transposição ao longo prazo para outros autores (Vernengo,1994 e Robinson,1979). 3.4.7 - A Dinâmica na Teoria Geral A síntese neoclássica, através de Hicks, no
modelo IS/LM, mostra que a economia encontra equilíbrio simultâneo no mercado de bens (nível de renda) e monetário (taxa de juros). Pigou (efeito riqueza) e Modigliani (efeito Keynes) mostram que a queda dos preços e dos salários é uma arma eficiente na condução ao pleno emprego.

Os pós-keynesianos, com o objetivo de resgatar a teoria geral, afirmam que a existência de moeda representa a presença do elemento de instabilidade que pode quebrar o ciclo renda-gasto, pois a retenção da moeda (liquidez) é a acumulação mais procurada em períodos de crise. Para Keynes, uma redução dos salários e do preço reduz, respectivamente, a
demanda efetiva e o lucro, gerando instabilidade e estimulando a acumulação de ativos líquidos
(dinheiro), provocando, assim, um aumento na taxa de juros e contrariamente a Pigou e Modigliani, desencorajaria o investimento.
A síntese neoclássica negligencia a importância da moeda e das expectativas, distorcendo desta forma, o conteúdo da teoria geral (Bittencourt,1995). Em síntese, tanto o modelo de Keynes quanto o kaleckiano representam um importante marco teórico no sentido de introduzir uma revisão à macroeconômica clássica e neoclássica e na tentativa de explicação da dinâmica
capitalista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário