Os determinantes do desenvolvimento econômico
Esta seção
e a seguinte estão centradas em duas das principais obras de
Schumpeter: a Teoria do Desenvolvimento Econômico (TDE) e Capitalismo,
Socialismo e Democracia (CSD), complementadas com bibliografia
adicional. Na primeira, Schumpeter discute as causas da mudança
econômica, enquanto na segunda são analisados o processo e os impactos
decorrentes da evolução do capitalismo (Heertje, 1977).
Schumpeter,
em sua análise, estabelece, desde o início, as bases sob as quais atua o
mecanismo econômico. São elas: a propriedade privada, a divisão do
trabalho e a livre concorrência.
Na TDE, para se aproximar do
movimento da economia capitalista, Schumpeter lança mão de artifício de
análise, procedimento esse já presente em outros autores: trata-se do
mecanismo do
‘fluxo circular’.
A idéia de criar uma imagem
mental, um tipo de ‘protótipo’ de sistema econômico a partir do qual vai
se aprofundando o conhecimento, foi usada anteriormente por Adam Smith e
Karl Marx. Na Riqueza das Nações , na parte em que procura identificar
os determinantes do valor de troca das mercadorias, Smith menciona uma
sociedade imaginária, anterior ao capitalismo, a que ele se referiu como
o ‘estágio rude e primitivo da sociedade’ que precede a acumulação de
capital. Marx, por sua
vez, em O Capital, na explicação do
excedente e do processo de acumulação, parte inicialmente de uma
‘economia mercantil simples’ para, então, introduzir elementos próprios
do modo de
produzir capitalista.
Na economia do ‘fluxo
circular’, segundo Schumpeter, a vida econômica transcorre
monotonamente, em que cada bem produzido encontra o seu mercado, período
após período. Isso, contudo, não significa concluir que inexista
crescimento econô- mico. Admitem-se incrementos na produtividade,
decorrentes de aperfeiçoamentos no processo de trabalho e de mudanças
tecnológicas contínuas na função de produção. Entretanto, essa base
tecnológica já é conhecida, incorporada que foi com o tempo na matriz
produtiva da economia.
Os agentes econômicos apegam-se ao
estabelecido, e as adaptações às mudanças ocorrem em ambiente familiar e
de trajetória previsível. Nessas circunst âncias, de acordo com
Schumpeter, mudanças econômi- Cadernos IHU Idéias 3cas substanciais não
podem ter origem no fluxo circular, pois a reprodução do sistema está
vinculada aos negócios realizados
em períodos anteriores.
A
questão para Schumpeter é que as inovações transformadoras não podem ser
previstas ex ante6. Contudo, esses tipos de inovações, que são
originadas no próprio sistema, quando introduzidas na atividade
econômica, produzem mudanças que são qualitativamente diferentes
daquelas alterações do dia-a-dia, levando ao rompimento do equilíbrio
alcançado no fluxo circular.
Assim, a evolução econômica se
caracteriza por rupturas e descontinuidades com a situação presente e se
devem à introdu ção de novidades na maneira de o sistema funcionar.
O
fato de as mudanças econômicas, que possam alterar os rumos dos
acontecimentos, levando a economia a trilhar caminhos nunca dantes
percorridos, tenham origens externas ao fluxo circular, não implica, por
sua vez, que nada se possa dizer teoricamente sobre elas. Isso seria
assim caso fizéssemos uma análise estática e de equilíbrio dos fenômenos
econômicos, pois nesse tipo de abordagem a preocupação principal é como
chegar aos preços e quantidades que igualam oferta e demanda dos bens,
uma adaptação dos agentes a dadas alterações em alguma variável do
modelo, mas sem modificar os seus parâmetros.
Mas quando a
natureza das mudanças é qualitativamente de uma ordem diferente daquelas
que são observadas na vida econômica diária, então esses instrumentos
de análise são incapazes de captar a natureza do acontecido. Schumpeter
adverte que a contribuição de Léon Walras (1834-1910) – a quem tinha em
elevada consideração – não seria capaz de dar conta dessas situações e
teria vigência apenas no estado estacionário, ou seja, às acomodações do
sistema em seu movimento rumo ao equilíbrio. Segundo Haberler (1950),
no prefácio à edição japonesa da TDE, Schumpeter menciona uma (e única)
conversa que teve com Walras, na qual esse autor lhe disse que a vida
econô-
mica seria apenas uma sucessão adaptativa às ocorrências de
ordem natural e social que agem sobre ela. Para Schumpeter, entretanto,
adaptações, embora possam produzir crescimento, não caracterizam em si o
desenvolvimento econômico (TDE, p. 47).
Nenhum comentário:
Postar um comentário