quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Os determinantes do desenvolvimento econômico

Os determinantes do desenvolvimento econômico
Esta seção e a seguinte estão centradas em duas das principais obras de Schumpeter: a Teoria do Desenvolvimento Econômico (TDE) e Capitalismo, Socialismo e Democracia (CSD), complementadas com bibliografia adicional. Na primeira, Schumpeter discute as causas da mudança econômica, enquanto na segunda são analisados o processo e os impactos decorrentes da evolução do capitalismo (Heertje, 1977).
Schumpeter, em sua análise, estabelece, desde o início, as bases sob as quais atua o mecanismo econômico. São elas: a propriedade privada, a divisão do trabalho e a livre concorrência.
Na TDE, para se aproximar do movimento da economia capitalista, Schumpeter lança mão de artifício de análise, procedimento esse já presente em outros autores: trata-se do mecanismo do
‘fluxo circular’.
 A idéia de criar uma imagem mental, um tipo de ‘protótipo’ de sistema econômico a partir do qual vai se aprofundando o conhecimento, foi usada anteriormente por Adam Smith e Karl Marx. Na Riqueza das Nações , na parte em que procura identificar os determinantes do valor de troca das mercadorias, Smith menciona uma sociedade imaginária, anterior ao capitalismo, a que ele se referiu como o ‘estágio rude e primitivo da sociedade’ que precede a acumulação de capital. Marx, por sua
vez, em O Capital, na explicação do excedente e do processo de acumulação, parte inicialmente de uma ‘economia mercantil simples’ para, então, introduzir elementos próprios do modo de
produzir capitalista.
Na economia do ‘fluxo circular’, segundo Schumpeter, a vida econômica transcorre monotonamente, em que cada bem produzido encontra o seu mercado, período após período. Isso, contudo, não significa concluir que inexista crescimento econô- mico. Admitem-se incrementos na produtividade, decorrentes de aperfeiçoamentos no processo de trabalho e de mudanças tecnológicas contínuas na função de produção. Entretanto, essa base tecnológica já é conhecida, incorporada que foi com o tempo na matriz produtiva da economia.
Os agentes econômicos apegam-se ao estabelecido, e as adaptações às mudanças ocorrem em ambiente familiar e de trajetória previsível. Nessas circunst âncias, de acordo com Schumpeter, mudanças econômi- Cadernos IHU Idéias 3cas substanciais não podem ter origem no fluxo circular, pois a reprodução do sistema está vinculada aos negócios realizados
em períodos anteriores.
A questão para Schumpeter é que as inovações transformadoras não podem ser previstas ex ante6. Contudo, esses tipos de inovações, que são originadas no próprio sistema, quando introduzidas na atividade econômica, produzem mudanças que são qualitativamente diferentes daquelas alterações do dia-a-dia, levando ao rompimento do equilíbrio alcançado no fluxo circular.
Assim, a evolução econômica se caracteriza por rupturas e descontinuidades com a situação presente e se devem à introdu ção de novidades na maneira de o sistema funcionar.
O fato de as mudanças econômicas, que possam alterar os rumos dos acontecimentos, levando a economia a trilhar caminhos nunca dantes percorridos, tenham origens externas ao fluxo circular, não implica, por sua vez, que nada se possa dizer teoricamente sobre elas. Isso seria assim caso fizéssemos uma análise estática e de equilíbrio dos fenômenos econômicos, pois nesse tipo de abordagem a preocupação principal é como chegar aos preços e quantidades que igualam oferta e demanda dos bens, uma adaptação dos agentes a dadas alterações em alguma variável do modelo, mas sem modificar os seus parâmetros.
Mas quando a natureza das mudanças é qualitativamente de uma ordem diferente daquelas que são observadas na vida econômica diária, então esses instrumentos de análise são incapazes de captar a natureza do acontecido. Schumpeter adverte que a contribuição de Léon Walras (1834-1910) – a quem tinha em elevada consideração – não seria capaz de dar conta dessas situações e teria vigência apenas no estado estacionário, ou seja, às acomodações do sistema em seu movimento rumo ao equilíbrio. Segundo Haberler (1950), no prefácio à edição japonesa da TDE, Schumpeter menciona uma (e única) conversa que teve com Walras, na qual esse autor lhe disse que a vida econô-
mica seria apenas uma sucessão adaptativa às ocorrências de ordem natural e social que agem sobre ela. Para Schumpeter, entretanto, adaptações, embora possam produzir crescimento, não caracterizam em si o desenvolvimento econômico (TDE, p. 47).

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